setembro de 2025
O que é que somos?
Nós, seres humanos, sentimos a felicidade e a tristeza. E mesmo com o coração mudando a cada momento, o nosso "eu" continua. Ele está sempre lá. O nosso coração, que sente tantas emoções, tem espaço para tudo. E esse espaço que parece tão nosso, é, na verdade, um espaço que é cada um de vocês.
Vocês são o lugar sagrado onde os antepassados que já partiram, e os descendentes que ainda nem nasceram, se encontram. O passado e o futuro, que nunca estão juntos, se conectam em cada um de vocês. A vida é uma linha que nunca se quebra, transmitida dos seus antepassados. E é através de vocês que essa linha vai continuar para os seus descendentes.
Vocês não estão sozinhos. A nossa existência é feita de pessoas. No budismo, usamos o nenju como uma ferramenta sagrada. Pensem nas contas. Essas contas têm buracos. E esses buracos só existem por causa das outras contas ao redor. Elas se tocam e se sustentam.
Vocês são como esses buracos. A forma e a personalidade de vocês são feitas pelas pessoas ao seu redor: a sua família, os seus amigos, os vizinhos. São eles que dão a vocês o significado. Mas e se o buraco em si for o que permite a conexão entre as contas?
Essas pessoas mudam. Pessoas amadas partem, mas outras novas chegam. As pessoas que perdemos, elas simplesmente desaparecem para sempre? Nós sentimos um vazio, uma ausência.
O que realmente precisamos entender é que, na tristeza da perda, há algo que não foi perdido. Não é a pessoa, mas é o amor. O amor de quem se foi ainda está em vocês. As memórias quentes que temos. Esse amor não desaparece, ele fica em vocês, transformando o vazio em um calor.
Buda nos ensina que esse amor se transforma em uma força ainda mais poderosa, chamada compaixão. A tristeza, então, não é um inimigo. Ela se torna uma oportunidade para perceber esse poder. A compaixão que sentimos pela perda pode ser a mesma que sentimos pelos outros.
Nós podemos fazer da compaixão parte de nós. Podemos espalhar a bondade para outras pessoas. Transformar a tristeza em gratidão e gentileza. Esse é o caminho. É a forma de honrar quem partiu e, ao mesmo tempo, de viver uma vida mais rica.
Nós não existimos sozinhos. Somos uma teia de conexões. E essa conexão, que existe mesmo na perda, é a sabedoria que nos salva e torna a vida mais completa.
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agosto de 2025
A Luz da Tiotin, O Sinal do Coração
Sejam todos muito bem-vindos a esta cerimônia de Obon.
Por favor, contemplem estas Tiotins que preenchem nosso templo. Esta é uma paisagem de imensa beleza, que se manifesta apenas neste dia de encontro. É a materialização do sentimento sincero que cada um de vocês dedica aos seus entes queridos que já partiram.
Todos nós vivemos carregando uma tristeza inevitável em nossos corações.
A dor de perder alguém que amamos nunca desaparece por completo. O templo é um lugar onde podemos, com segurança, nos conectar em espírito com os que se foram, sem precisar esconder essa dor.
Bem, por muito tempo se disse que estas lanternas são um "guia" para que nossos antepassados possam voltar sem se perder. Mas será que é realmente assim?
Nossos antepassados, que se preocupam conosco mais do que ninguém, não poderiam ser seres tão frágeis a ponto de se perderem sem esta luz.
Lembrem-se da nossa infância. Éramos sempre nós, as crianças, que estendíamos as mãos desesperadamente para não nos perdermos de nossos pais. O olhar de nossos pais, no entanto, nunca se desviou de nós, nem por um único instante.
O olhar de nossos antepassados é exatamente o mesmo. Seja nos momentos de alegria ou de tristeza, esse olhar caloroso está sempre voltado diretamente para nós.
Pensando assim, estas lanternas não são um "guia" para os nossos antepassados.
Elas são, na verdade, um "sinal" para que nós possamos perceber esse olhar que nunca muda. São a nossa gratidão e a nossa promessa, dizendo: "Nós jamais nos esqueceremos de vocês".
Manter esta tradição em uma terra distante é um ato de coração muito nobre. É o que conecta nossos antepassados a nós, e a nós aos nossos filhos e netos do futuro. Cada uma destas luzes, oferecidas por vocês, é a materialização do nosso desejo comum de passar este laço valioso para as próximas gerações.
Através dos ensinamentos do Buda Amida, eu desejo compartilhar esta percepção com todos vocês. Que o olhar caloroso com que nossos antepassados cuidam de nós é, em essência, a própria luz da compaixão do Buda Amida, que ilumina a todos, sem distinção.
Portanto, por favor, sintam-se em paz.
Nós nunca estamos sozinhos. Neste dia sagrado, encontrem-se silenciosamente em seus corações com aquela pessoa mais querida que desejam rever. Nós somos, a todo momento e em todo lugar, acolhidos por uma grande luz.
Vamos agradecer do fundo do coração por este precioso encontro.
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julho de 2025
A Luz da Compaixão de Amida e o Reencontro na Terra Pura
Hoje, nos reunimos em frente ao altar do Buda Amida para esta cerimônia, um momento sagrado de encontro.
Ao unirmos nossas mãos em gassho, não apenas honramos uma tradição, mas também abrimos nossos corações para a luz da compaixão, recordando com profundo respeito os nossos falecidos.
Em nossa tradição Jodo Shinshu, aprendemos uma verdade libertadora: não somos salvos por nossos próprios méritos, pela nossa bondade ou por nossos esforços.
Somos todos seres imperfeitos, bombu, carregando nossas dúvidas, nossos medos e nossos erros.
Mas a luz infinita da compaixão do Buda Amida brilha sobre todos, exatamente como somos, sem exigir nada em troca.
O Voto Original de Amida é a promessa absoluta de que ninguém, sem exceção, será abandonado.
Quando recitamos o Nembutsu, "Nan Man Dabu", não estamos pedindo por salvação ou tentando acumular méritos.
O Nembutsu é a própria compaixão de Amida se tornando voz através de nós.
É a nossa resposta de gratidão, um simples "obrigado" por sermos acolhidos e abraçados incondicionalmente, assim como somos.
nossos entes queridos que partiram não estão em um lugar distante e inalcançável.
Eles já renasceram na Terra Pura, O Jodo, o mundo de luz e sabedoria, onde todas as dores cessam e onde eles se tornaram Budas.
De lá, eles não apenas descansam, mas nos envolvem com sua sabedoria e serenidade, guiando-nos e protegendo-nos.
E nós, quando nossa jornada neste mundo terminar, temos a certeza de que também seremos recebidos na mesma Terra Pura.
Portanto, esta cerimônia não é um adeus melancólico, mas um reencontro alegre na luz do Buda.
É a confirmação de que os laços que nos unem são tecidos pela compaixão de Amida e transcendem a vida e a morte.
Que possamos viver nossos dias com a profunda tranquilidade e a imensa gratidão que vêm da confiança total no Voto de Amida.
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junho de 2025
A essência da Jodo Shinshu smor conexão e esperança na terra brasileira
Agradeço sempre a constante atenção de todos.
As palestras desta Escola Jodo Shinhu sempre trazem mensagens sobre nosso modo de viver.
Missa do hoje é um dia memorável, que marca o início das atividades do japoneses no Brasil, com a chegada dos primeiros companheiros do Japão.
Então hoje falarei sobre a essência de nossos ensinamentos do Escola Jodo Shinshu.
O ponto central é a imensa e profunda compaixão do Buda Amida.
Ele salva todas as pessoas, sem exceção, guiando-as à Terra Pura.
Após esta vida, não ficaremos sozinhos, mas seremos acolhidos em seu mundo de paz.
Essa salvação não vem de nosso esforço, mas do grande poder de Amida.
Recitar o Nembutsu, "Nan Man Dabu", é o ato de aceitar essa compaixão e sentir nossa conexão com o Buda.
Em seguida, valorizamos a conexão com os que partiram.
Em eventos como ceremonia do hoje ou Obon, lembramos dos falecidos para expressar gratidão.
Recordá-los não é apenas lamentar, mas reconfirmar o amor e os ensinamentos que recebemos, transformando-os em força para viver.
Suas memórias e exemplos devem viver em nós e ser passados às futuras gerações.
O ensinamento também se baseia na impermanência da vida e na ideia de que tudo está interconectado.
Em meio aos encontros e despedidas que formam nossa vida, é vital compreender o valor de nossas relações e da conexão entre todos os seres.
Acima de tudo, está o coração de "compaixão".
Alegrar-se com a felicidade alheia e acolher a dor do outro como se fosse nossa nos conecta ao coração do Buda.
A verdadeira alegria não está em buscar a própria felicidade, mas em agir para o bem dos outros.
No dia a dia, praticamos a autorreflexão e vivemos com gratidão e sinceridade.
Todos esses ensinamentos nos guiam pelo caminho da fé na salvação de Amida, vivendo com o Nembutsu.
Essa fé nos oferece esperança e paz de espírito diante dos sofrimentos da vida.
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maio de 2025
A vida que nos conecta memória família e gratidão
Hoje celebramos o Gotan-e, o nascimento do nosso fundador, o Mestre Shinran. Hoje, como expressam os sentimentos contidos em seus ihai que trouxeram, é também um tempo para recordar nossos entes queridos que partiram. O Mestre Shinran nos transmitiu a imensa compaixão do Buda Amida, que acolhe a todos, sem exceção. Esta compaixão transcende o tempo e se derrama sobre todos os seres.
Hoje, reflitamos sobre os "laços da vida". Quando é que a existencia de uma pessoa realmente desaparece? Não é com a morte do corpo, mas sim quando não há mais ninguém que a recorde, quando ela é esquecida. Então, quando a existência começa? Não é no momento do nascimento, mas muito antes. Começa no caloroso sentimento de expectativa e nos votos de felicidade daqueles que anseiam por seu nascimento. A existência termina quando é esquecida, e começa quando é desejada.
Nossas vidas se expandem para além do tempo. Tendo como centro o nosso ser que vive o "agora", nossos ancestrais e descendentes existem simultaneamente. O núcleo que conecta esses laços da vida, que se estendem do passado ao futuro, especialmente as memórias daqueles que partiram, é a família. Reunir-se com os tabletes memoriais em mãos é um testemunho do amor pelos falecidos e do juramento de "não esquecer". Gravamos seus nomes nos tabletes e os recordamos diariamente. Transmitir as lembranças e os ensinamentos dessas pessoas dentro da família é entregar um tesouro espiritual inestimável para as próximas gerações.
Manter vivo diariamente este sentimento de recordação está ligado a viver cada dia com esmero e sinceridade.
A importância dessa continuidade também pode ser vista na postura dos pioneiros issei, que vieram do Japão. Em meio a dificuldades, eles perseveraram com esforço constante e estabeleceram as fundações de suas vidas. Essa "continuidade" diária é o alicerce para o desenvolvimento futuro.
Entre nós, há aqueles que herdam o sangue de seus antepassados e aqueles que se afeiçoaram à cultura japonesa. A seriedade, a honestidade, a compaixão e o sentimento de gratidão demonstrados por nossos pioneiros não são meros costumes antigos, mas sim "raízes" importantes que transcendem países e culturas, essenciais para uma vida plena. Tomar consciência dessas raízes e viver o dia a dia com sinceridade, esmero e gratidão. Essa perseverança constante enriquece nossa comunidade e ilumina nossas vidas. E a nossa postura de seguir em frente com firmeza é a maior expressão de gratidão aos que partiram, e certamente lhes trará paz.
O Mestre Shinran nos revelou que somos todos infalivelmente acolhidos pelo Buda Amida. A luz da compaixão do Buda Amida se derrama igualmente sobre os que partiram, sobre nós que vivemos o presente e também sobre as futuras gerações.
Guardar no coração os que partiram, agradecer pelos laços familiares e trilhar com esmero o dia a dia rumo ao futuro. Nessas ações reside uma forma de viver que corresponde ao desejo do Buda Amida. Ao recitarmos o "Nan Man Dabu", sentimos a conexão com aqueles que se foram e com o Buda Amida, e somos preenchidos por gratidão.
Por favor, guardem no coração este precioso encontro de hoje, e perseverem no sentimento de recordar os entes queridos e na determinação de viver cada dia com sinceridade. Essa continuidade nos sustentará e será a força que tornará este lugar ainda melhor.
Muito obrigado por sua presença hoje.
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abril de 2025
A vida é uma sucessão de adeus
Hoje, nesta missa, celebramos o nascimento de Buda Shakyamuni, o fundador do Budismo. Ao celebrarmos o início da vida, refletimos sobre sua transitoriedade e a inevitabilidade da despedida. A vida é um fluxo de encontros e despedidas, como as cerejeiras que florescem e dispersam suas pétalas. O encontro com quem amamos é precioso justamente por ser passageiro.
Recentemente, vivenco um "adeus" sentido com a partida de um membro do Otera como kutyo do cocuera3, que por muitos anos ajudou nos. Essa experiência nos convida a refletir sobre a despedida em nossas vidas.
Somos cercados por "adeus" de todos os tipos, desde um simples "já vou" até separações que marcam a alma. Cada despedida abre um espaço em nós, de vazio, gratidão, alívio ou esperança, refletindo a intensidade dos laços e experiências compartilhadas. Como as cerejeiras perdem suas pétalas para dar lugar a novas folhas, as pessoas seguem seus caminhos. Essa é a ordem natural da existência, um fluxo que nos conecta a tudo.
A partida causa dor, eco do amor e valor que dedicamos. A alegria compartilhada se transforma em lembranças preciosas, filtradas pela saudade. A ausência física não é o fim.
Diante da dor, acolhamos a tristeza. Unamos nossas mãos em silêncio e oração, buscando conforto e paz. (Breve pausa)
Para concluir, compartilho um poema japonês:
[Aceite esta taça, último brinde da amizade,
Que transborda meus sentimentos.
Tal como as flores em plena beleza
São dispersas pela tempestade.
A vida é uma sucessão de adeus.]
Que a beleza dos encontros e a força da lembrança nos guiem. Que cada "adeus" nos lembre do tempo compartilhado e nos inspire a viver com mais intensidade e amor. Obrigado.
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março de 2025-2
Ecos de uma terra distante, a canção da vida
O que Aconteceu na Serena Floresta Onde os Cervos se Reuniam. Há muito tempo, em uma exuberante floresta da Índia, havia um lugar onde os cervos se reuniam naturalmente. Certo dia, um jovem, após profunda meditação sob a sombra de uma árvore, despertou para a verdade do mundo.
Ele começou a falar sobre essa verdade aos cervos que ali estavam, como se estivesse conversando com eles. As pessoas chamam esse evento de "o primeiro sermão".
O que os Antigos Indianos Viam nos Cervos
Por que cervos estavam presentes no local do primeiro sermão?
Na Índia antiga, os cervos eram seres especiais. Diferentemente dos elefantes, fortes e por vezes símbolos de poder, os cervos representavam a serenidade, a beleza e a pureza da própria natureza.
Talvez as pessoas vissem na figura do cervo a harmonia com a natureza e um estado de espírito pacífico.
O Mundo é "Mutável" e "Interconectado"
O jovem falou sobre o mundo da seguinte forma:
- "Todas as coisas não existem independentemente, mas em relação umas com as outras."
- "Todas as coisas estão em constante mudança, nada permanece."
O mundo que vemos é como o fluxo de um rio, sempre mudando de forma, e todas as coisas estão interligadas, influenciando-se mutuamente.
A essência daquele que personifica a verdade (as pessoas o chamavam de "Tathagata") é essa própria natureza de "mudança e interconexão". Ondas, vento, cervos, humanos, todos são fenômenos preciosos que surgem e desaparecem dentro desse grande fluxo.
O que Significa "Ouvir o Ensinamento"? – A Disposição do Coração
Então, o que significa "ouvir o ensinamento"?
Não se trata apenas de compreender palavras. É abrir o coração à verdade do mundo (que todas as coisas mudam, estão interconectadas e não permanecem), senti-la e praticá-la no dia a dia.
Os cervos e outros animais, que vivem em seu estado natural, de certa forma, já estão em sintonia com essa verdade. Por outro lado, nós, humanos, muitas vezes nos apegamos aos nossos próprios desejos e apegos, afastando-nos dessa conexão. Então, mesmo que tenhamos a forma humana, nossos corações podem estar insatisfeitos e vagando sem rumo.
A Verdade na Natureza Humana
O jovem que despertou para essa verdade também era humano como nós. Sentia fome e comia, sentia cansaço e descansava, e às vezes até se zangava.
Mas todas essas eram expressões naturais da humanidade. Ele valorizava o "caminho do meio", evitando extremos.
Há verdade no "viver como se é". Isso se assemelha à forma como os cervos e outros animais vivem naturalmente, seguindo seus instintos.
E, então, o "Dharma"
A verdade que esse jovem falou e o modo de vida que surgiu dela... Mais tarde, as pessoas passaram a chamar isso de "Dharma".
Este jovem é Siddhartha Gautama, que mais tarde se tornaria o Buda, o fundador do budismo.
O Dharma é um ensinamento aberto a todos os seres vivos, não apenas aos humanos. É uma filosofia profunda que transcende uma visão de mundo centrada no homem e expressa em palavras a ressonância de toda a natureza.
―― Espero que esta pequena história seja o "primeiro passo" para trazer um novo sopro aos corações do todos. E que o "primeiro sermão", que os cervos ouviram há muito tempo, ecoe através do tempo e do espaço, ressoando em seus corações como um chamado à busca pela verdade.
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março de 2025
Um Espelho da alma
Gostaria de convidá-los a uma breve introspecção. Imaginem-se diante de um espelho. Quem se reflete ali? A resposta reside não apenas nas feições, mas também na postura, no olhar. Assim como nosso corpo revela nossos hábitos, nossos gestos involuntários podem indicar a paz ou a turbulência de nossa alma.
Observem as pessoas ao seu redor. Aqueles que cultivam a alegria interior muitas vezes a irradiam em suas saudações calorosas, em seus sorrisos sinceros. Por outro lado, a infelicidade pode se manifestar na ausência de um aperto de mão firme, de um sorriso genuíno.
Não devemos julgar superficialmente, mas a nossa aparência e a dos outros são portais de informações valiosas, um primeiro contato que inegavelmente causa impacto. Os antigos sábios, observando atentamente o exterior, buscavam desvendar a essência interior, muitas vezes invisível aos olhos.
A forma como nos apresentamos influencia não só a percepção dos outros sobre nós, mas também a nossa própria. Sentem falta de confiança? Tentem corrigir a postura, andar com a cabeça erguida. O coração está pesado? Esforcem-se em esboçar um sorriso suave. Buscam a felicidade? Cumprimentem as pessoas com alegria e entusiasmo.
Mesmo um sorriso simples, oferecido com sinceridade, pode ser um alento inesperado para alguém que enfrenta um dia difícil. Ainda que seus próprios problemas persistam, seu sorriso pode iluminar momentaneamente o caminho de outra pessoa.
A dedicação em buscar a felicidade alheia não é um esforço vão, um sacrifício perdido. "Alguém sempre observa", diz um antigo provérbio. Alguns chamam essa presença de Deus, outros de Buda, outros ainda de uma força maior que nos conecta.
Povos antigos reverenciavam o sol como fonte de luz e vida. Em nossa tradição da Terra Pura, chamamos essa força benevolente de "Buda", aquele que nos observa com compaixão e celebra aqueles que se dedicam ao bem-estar de todos. Todos nós almejamos a felicidade plena, mas sabemos que ela é efêmera, pois tudo neste mundo é impermanente, está em constante mudança.
Em vez de buscarmos apenas a nossa própria felicidade, que tal aspirarmos à felicidade de todos os seres? Quando cada um de nós deseja sinceramente a felicidade dos outros, naturalmente, todos desejarão a nossa. No Budismo, esse sentimento profundo de desejar o bem-estar de todos é chamado de "compaixão", a própria essência do coração de Buda.
Hoje, muitos de vocês vieram a este lugar para orar por seus entes queridos que partiram. Que, a partir desse nobre sentimento de saudade e amor, vocês possam receber em seus corações a compaixão de Buda e estendê-la a todos os seres que sofrem neste mundo. Que essa energia de bondade se irradie de vocês para todos os lados.
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fevereiro de 2025
A Luz na escuridão
Em breve, o calor do verão dará lugar aos ares do outono. É uma época de mudanças de temperatura, por isso, cuidem-se bem e aproveitem cada dia. Hoje, gostaria de compartilhar com vocês uma reflexão sobre os dois valores opostos que sempre existem em nossos corações, perece que: o bem e o mal, o positivo e o negativo.
Às vezes, é justamente por nos perdermos na escuridão que a beleza do brilho da luz se torna ainda mais intensa. Isso nos mostra que, em nosso dia a dia, é por passarmos por momentos de dor e tristeza que conseguimos apreciar a alegria e a felicidade com mais profundidade, não é mesmo?
Conhecer a dor da perda de alguém que amamos faz com que o calor e a importância de quem está ao nosso lado toquem nosso coração de forma especial.
Em certos momentos, a felicidade pode parecer algo distante, principalmente quando estamos no fundo do poço. No entanto, o mundo é vasto e cheio de coisas que nos envolvem.
Quando sentimos que estamos no fundo do poço, é quando o mundo nos mostra o quão amplo ele é e quantas possibilidades existem.
Em nosso cotidiano, vemos, ouvimos e aprendemos muitas coisas.
Porém, assim como ler as palavras não significa compreender seu verdadeiro significado, a verdade do mundo sempre se revela a nós, mas talvez nós é que não estejamos prestando atenção.
Muitas vezes, estamos tão presos aos nossos próprios valores e crenças que acabamos nos distanciando da verdade.
A resposta pode estar bem diante de nossos olhos, mas simplesmente não a notamos.
Os ensinamentos budistas nos ajudam a "despertar" para enxergar a verdade.
Esses ensinamentos não são algo extraordinário, mas sim algo que sempre esteve ao nosso lado, guiando-nos.
Abram seus corações e olhem ao redor.
Tenho certeza de que vocês descobrirão uma luz que antes passava despercebida. E essa luz irá envolvê-los com seu calor e mostrar o caminho a seguir.
Agradeço de coração por podermos compartilhar juntos um pouco dos ensinamentos de Buda neste dia.
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janeiro de 2025
Celebrando a vida e cultivando a memória.
É com profunda gratidão que nos reunimos hoje para, juntos, prestarmos homenagens aos entes queridos que já partiram. Ao consultar os nomes dos falecidos neste mês no site do templo, para a cerimônia em memória aos que já se foram, me deparei com uma lista de 170 nomes. Isso me fez perceber, mais uma vez, que muitas pessoas encerraram sua jornada neste mundo somente em janeiro. É claro que esta lista representa apenas uma pequena parte daqueles que partiram, cada um com sua história, suas vivências, e sua contribuição para o mundo.
A vida é finita, e a morte é uma realidade inevitável para todos nós. É natural que ela nos traga tristeza e, por vezes, medo. Mas será que a morte representa o fim de tudo? Acredito que não. A existência de cada pessoa, o tempo que passamos juntos, as palavras que trocamos, o carinho que recebemos... tudo isso permanece vivo em nossos corações, de diferentes maneiras.
As histórias de grandes figuras históricas nos fascinam. Não apenas por seus feitos extraordinários, mas também porque refletem o desejo universal do ser humano de deixar sua marca no mundo, de ser lembrado.
"Como posso ser lembrado?", "Como posso evitar ser esquecido?".
Talvez, ao nos depararmos com essas questões, pensemos em pedir aos outros que se lembrem de nós. Mas será que essa é a verdadeira essência da vida? Acredito que o mais importante é valorizarmos a existência de cada pessoa ao nosso redor, e mantermos viva a memória daqueles que já partiram, transmitindo-a às futuras gerações.
Um olhar amável, palavras de conforto, um sorriso sincero... que cada um de nós possa encontrar a beleza nos pequenos gestos do dia a dia, e guardá-los em seu coração. Assim, as lembranças e os ensinamentos serão transmitidos através dos tempos, de geração em geração.
Ao longo da história, diversas religiões surgiram para confortar e guiar a humanidade. Algumas delas podem pregar que basta pedir para que seus desejos sejam realizados. No entanto, no Budismo Jodo Shinshu, o que realmente importa é a compaixão, a atitude altruísta de servir ao próximo sem esperar nada em troca.
Hoje, vocês se reúnem aqui, com as lembranças de seus entes queridos em seus corações. Este ato de homenagem demonstra não apenas o desejo de honrar a memória daqueles que partiram, mas também a nobre intenção de "fazer algo pelos outros". Agir em benefício do próximo, este é o caminho para a verdadeira felicidade. E este princípio se manifesta de forma clara nesta cerimônia de homenagem aos que já se foram.
As lembranças dos que amamos podem se transformar com o tempo, mas jamais se apagam. Guardem essas lembranças com carinho em seus corações, e continuem suas jornadas, valorizando as pessoas ao seu redor, oferecendo apoio mútuo e caminhando juntos em direção ao futuro.
No Budismo, cerimônias como funerais e Hoji que memoriais nos proporcionam a oportunidade de refletir sobre a vida e sobre como devemos viver. Que esta cerimônia seja um momento não apenas para homenagearmos aqueles que já partiram, mas também para que cada um de vocês possa olhar para si mesmo, para sua própria trajetória, e encontrar esperança e força para seguir em frente.
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dezembro de 2024
O que enche o seu coração?
De onde você veio?
Essa pergunta também está conectada à questão fundamental do Budismo. No Budismo, diz-se que viemos do nada e retornaremos ao nada. No universo, ao longo de dezenas de bilhões de anos, várias coisas nasceram e desapareceram. A vida de um ser humano, que dura apenas algumas décadas, é apenas um momento na vasta escala de tempo do universo. No entanto, é nesse breve brilho da vida que preenchemos nossos corações com alegria e tristeza e passamos um tempo insubstituível. Nesse tempo, todas as pessoas recebem igualmente 24 horas por dia. Como usá-las é nossa liberdade. Como você usaria o seu tempo?
Aqui está uma história para ilustrar.
Em uma aula da universidade, um professor começou a falar para seus alunos. O professor colocou um grande panela e um saco cheio de bolas de golfe em cima da mesa. Em seguida, ele colocou as bolas do saco no panela. Quando o panela estava cheio até a borda com as bolas, o professor fez uma pergunta.
"Este panela está cheio?" Todos os alunos responderam: "Sim, está cheio".
O professor então pegou um saco cheio de pedrinhas e começou a despejar o conteúdo no panela. As pedrinhas se infiltraram nos espaços entre as bolas de golfe. Quando uma quantidade considerável de pedrinhas havia entrado e parecia que não cabia mais, o professor perguntou novamente.
"Então, agora o panela está cheio?"
Depois de pensar um pouco com base na experiência anterior, os alunos responderam: "Sim, desta vez temos certeza de que está cheio".
No entanto, o professor pegou outro saco cheio de areia e começou a despejar seu conteúdo no panela. A areia fluiu suavemente para os espaços entre as bolas de golfe e as pedrinhas. Quando uma quantidade considerável de areia havia entrado e o panela parecia estar no limite, o professor perguntou novamente.
"Agora o panela está cheio?"
Nesse ponto, os alunos responderam: "Não, provavelmente ainda não está cheio".
Finalmente, o professor pegou um jarro de água e despejou a água no panela que já continha as bolas de golfe, as pedrinhas e a areia.
Então, o professor disse aos alunos:
"O que este experimento mostra é que, se você colocar a água ou a areia primeiro, não conseguirá colocar as bolas de golfe depois. As bolas de golfe aqui representam as coisas mais importantes da vida."
Todos nós recebemos o mesmo tempo. Como passamos cada dia, o acúmulo desses dias, se conecta a como vivemos nossas vidas, do nascimento à morte. Em termos da história anterior, a bola de golfe para nós é a questão de com o que devemos preencher nossos corações primeiro. Na tradição budista da Terra Pura, a pergunta "Para onde vamos depois que morremos?" é considerada a questão mais importante da vida, e valorizamos viver com isso em mente. E a resposta é "Vamos para a terra do Buda".
O mundo do Buda, onde estão aqueles que encontramos nesta vida e que partiram antes de nós.
Também retornaremos a esse mundo algum dia. Essa convicção se tornará um guia seguro para nós enquanto navegamos em nossas vidas cheias de incertezas.
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Novembro de 2024
Você não está sozinho: Uma mensagem para o Hoonko
Hoje, celebramos o Hoonko, um dia especial para expressar nossa gratidão aos ensinamentos de Shinran Shonin. Ele nos deixou uma mensagem profunda e inspiradora: nunca estamos sozinhos. Estamos conectados a todas as formas de vida, passadas, presentes e futuras.
É como se sempre estivéssemos acompanhados por duas presenças: Buda Amida, que representa a compaixão infinita, e Shinran Shonin, que nos guia com seus ensinamentos.
Este templo é um espaço sagrado que nos conecta com o mundo espiritual, com aqueles que já partiram e conosco mesmos. É um lugar de encontro, de reflexão e de paz interior.
Hoje, também nos reunimos para homenagear aqueles que amamos e que já não estão fisicamente entre nós.
A tristeza da perda é profunda e inevitável, mas os ensinamentos budistas nos oferecem conforto. A dor que sentimos não reside na morte em si, mas na saudade, na falta que sentimos.
Aqueles que partiram descansam em paz na infinita compaixão e misercordia de Buda Amida. Enquanto lembramos com carinho dos momentos compartilhados, podemos seguir em frente com a certeza de que eles estão em paz.
A morte pode parecer distante, mas é uma realidade que todos nós enfrentaremos um dia. É parte do ciclo da vida.
Buda Amida acolhe a todos com sua compaixão, tanto aqueles que já partiram quanto aqueles que ficaram. Confiemos em sua sabedoria e em seu amor incondicional.
Em memória daqueles que amamos, vamos celebrar a vida, valorizar cada momento e seguir em frente, juntos, com esperança e compaixão.
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Outubro de 2024
Honrando a memória, iluminando o caminho: A cerimônia Eitaikyō
Nesta cerimônia, honramos aqueles cujos nomes estão inscritos no livro Eitaikyō, relembrando com carinho suas vidas e o laço precioso que nos une. Tenho certeza que cada nome evoca em seus corações a imagem de familiares queridos. Em vida, eles nos ofereceram amor incondicional e nos presentearam com memórias preciosas.
Embora a impermanência da vida os tenha levado para longe do nosso convívio físico, suas presenças permanecem vivas em nossas lembranças.
O Eitaikyō transcende a mera homenagem aos que já partiram. É uma oportunidade para honrarmos seu legado e transmitirmos seus valores às futuras gerações.
Viemos a este mundo, encontramos pessoas queridas, compartilhamos alegrias e tristezas, e, inevitavelmente, chega o momento de nossa partida.
No entanto, o Budismo nos ensina que a morte não é o fim, mas uma transformação. Através do encontro com Buda em nossas vidas, seguimos para a Terra Pura de Amida.
Inscrever um nome no livro Eitaikyō é uma forma de expressar gratidão e também de iluminar o nosso próprio caminho.
Alguns de vocês podem estar se perguntando sobre a importância de registrar um nome.
Permitam-me dizer que este ato é um investimento no futuro, uma demonstração de amor aos descendentes e um caminho para a paz interior.
Ao inscrever um nome, garantimos que seus entes queridos sejam lembrados e homenageados neste templo, e que seus espíritos encontrem serenidade no paraíso budista.
E nós, que aqui permanecemos, fortalecidos pelos ensinamentos de Buda, seguimos nossas vidas com esperança e a certeza de que reencontraremos nossos amados.
O Eitaikyō é uma tradição que garante que seus ancestrais sejam sempre lembrados, mesmo que a linhagem familiar se finde.
Acreditamos que a verdadeira homenagem reside no amor e na intenção de manter viva a memória daqueles que partiram.
Aproveitem esta oportunidade para se conectar com este templo, um lugar de acolhimento e paz.
Minha família e eu viemos para o Brasil com o propósito de servir a esta comunidade. Sintam-se à vontade para nos procurar, estamos aqui para ouvi-los e auxiliá-los em suas jornadas.
Muito obrigado a todos pela presença.
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Setembro de 2024
Refletindo sobre a conexão da vida no Equinócio da Primavera
Hoje, reunimo-nos para o memorial coletivo e para celebrar o Equinócio da Primavera. É com profunda gratidão que nos encontramos para, juntos, ouvir os ensinamentos de Buda Amida. Na primavera, as flores desabrocham, os pássaros cantam, e a vida desperta. A natureza nos ensina sobre o ciclo da vida e a preciosidade de viver plenamente dentro do tempo limitado que temos.
Hoje também é um dia para lembrarmos e homenagearmos aqueles que já partiram. A perda de um ente querido traz profunda tristeza e solidão. No entanto, o budismo nos mostra o caminho para aceitar e superar a tristeza.
O budismo ensina que tudo neste mundo está em constante mudança e nada dura para sempre. As pessoas também nascem e, inevitavelmente, morrem. No entanto, os ensinamentos de Buda nos mostram que a morte não é o fim, mas um novo começo.
Através dos encontros e despedidas com várias pessoas, aprendemos sobre a preciosidade da vida e a importância das conexões humanas. Mesmo que o corpo físico pereça, os pensamentos e ações de uma pessoa continuam vivos em nossos corações, sendo transmitidos como a chama da vida.
Buda Amida, com o desejo de salvar a todos, nos convida para a Terra Pura. A Terra Pura é um mundo de paz, livre de sofrimento e tristeza. Mesmo que nos percamos e soframos, Buda Amida nunca nos abandona e nos observa com carinho.
E aqueles que já partiram também são guiados pela luz de Buda Amida para um mundo de paz.
Que a luz do Buda Amida, como a luz da primavera, alcance seus corações e também aqueles que já partiram.
Que, através desta conexão, os ensinamentos de Buda Amida se tornem um apoio para seus corações e uma esperança para o amanhã.
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Agosto de 2024
Obon: Um rio de memórias
É com o coração repleto de gratidão que os recebemos hoje, aqui em nosso templo, para celebrarmos juntos o Obon, esta tradição tão linda e significativa. Observá-los aqui reunidos, nesta terra distante que chamamos de lar, com a memória e o amor aos seus ancestrais vivos em seus corações, me enche de emoção.
É comovente ver como o elo com as nossas raízes permanece forte, mesmo a tantos quilômetros de distância do nosso Japão.
Ao longo dos séculos, o Obon, guiado pelos versos comoventes do Sutra Amida, entoado hoje com tanto respeito, tem sido um farol de esperança e conforto para o nosso povo.
É a oportunidade de celebrarmos a vida daqueles que já partiram, relembrarmos suas histórias, seus ensinamentos e o amor que uniu as nossas famílias através das gerações. E hoje, mais uma página desta história se escreve aqui.
Uma página que não fala apenas do passado, mas que também ilumina o nosso caminho para o futuro.
Talvez alguns se perguntem: por que relembrar o passado? Por que essa conexão com aqueles que já se foram é tão importante?
Meus queridos, assim como uma planta precisa de raízes fortes para florescer, nós também precisamos nutrir a nossa história, as nossas origens, para que possamos florescer como seres humanos completos.
É fácil pensarmos nos nossos ancestrais e nos nossos descendentes como vidas separadas, distantes. Mas a verdade é que somos todos parte de uma grande e infinita correnteza, um rio que flui do passado para o futuro, carregando consigo a história da humanidade, da nossa família, do nosso povo. E nesse fluir constante, honrar nossos ancestrais é também um ato de amor e esperança para as futuras gerações. É ensiná-los a importância da família, da gratidão e do respeito por aqueles que vieram antes de nós.
Enquanto no Japão o Obon é celebrado sob o calor do verão, aqui nos reunimos no aconchego do inverno.
Mas mesmo com as diferenças de clima e distância, a atmosfera que envolve este templo é a mesma: o aroma familiar do incenso, a saudade agridoce que aquece o coração, a certeza de que a distância e o tempo não podem apagar o amor e a gratidão que sentimos por aqueles que já partiram.
Na fé da Terra Pura, acreditamos que aqueles que amamos e que já se foram, renasceram sob a luz misericordiosa do Buda Amida.
E é com esse pensamento reconfortante que nos reunimos hoje, não para lamentar a ausência, mas para celebrar a vida e a memória daqueles que tanto amamos.
Ao lembrarmos deles, é natural que sentimentos de saudade, e até mesmo de arrependimento, aflorem em nossos corações.
"Se eu tivesse passado mais tempo com meus pais...", "Se eu tivesse dito o quanto os amo...".
Mas não se culpem por esses sentimentos, meus irmãos. Eles são apenas reflexos do amor e da falta que essas pessoas especiais nos fazem.
Transformemos esses sentimentos em força para vivermos cada dia com mais intensidade, compaixão e gratidão.
Que a lembrança daqueles que já partiram nos inspire a sermos pessoas melhores, mais justas, amáveis e presentes na vida daqueles que amamos.
Olhem ao redor! Cada um de vocês, carrega consigo a história e o amor de alguém que já se foi. Mesmo nos rostos desconhecidos, podemos sentir a saudade e a esperança.
Ninguém está verdadeiramente sozinho neste mundo.
Somos todos interligados por laços invisíveis de amor e compaixão.
Que esta cerimônia de Obon seja um momento de profunda conexão com as nossas raízes, de união familiar e de fortalecimento da nossa fé.
Que a luz do Buda Amida ilumine os nossos corações, guiando os nossos passos no caminho do bem e da felicidade.
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julho de 2024
O Sorriso que o inverno não levou
Assim como as águas da represa, visível deste salão principal, recuperam sua beleza tranquila nas manhãs enevoadas de inverno, que nossos corações também se refaçam em serenidade nesta época de recolhimento. É comum ouvirmos como histórias no templo budista.
Certa vez, um homem que havia perdido sua amada esposa procurou um monge. Ele havia trabalhado arduamente durante toda a vida, dedicado à empresa, à comunidade e, acima de tudo, à sua família.
"Quando o inverno chega, a saudade da minha esposa se torna quase insuportável", ele desabafou, com o coração carregado de pesar.
"Ela se foi, descansa sob a terra fria, enquanto eu ainda posso sentir o calor do sol... Isso me causa tanta dor."
O monge, escutando com atenção e compaixão, respondeu-lhe serenamente: "É verdade, sua esposa não está mais fisicamente presente. Mas o mundo que ela tanto amou e pelo qual se dedicou, cada raio de sol, cada gota de chuva, continua a envolvê-lo com a vida que ela também ajudou a construir. E o sorriso dela, acredite, esse jamais se apagará do seu coração."
Em seguida, o monge compartilhou uma antiga sabedoria:
"Finquemos raízes na terra e vivamos com o vento.
Assim como as sementes que enfrentam o inverno, cantemos a primavera com os pássaros".
Assim como a semente guarda em si a promessa de uma nova vida que florescerá na primavera, nós também carregamos em nossos corações a memória e o amor daqueles que partiram. É preciso ter a força para continuar, assim como a natureza se renova após o inverno.
A dor da perda é um processo natural, mas os ensinamentos budistas nos dizem: "Nunca é tarde demais" para encontrarmos a paz interior.
O passado não pode ser mudado, mas podemos transformar o futuro, honrando a memória dos que amamos e vivendo cada dia com intensidade.
Que tal compartilharmos histórias e lembranças daqueles que já partiram?
Oferecer e receber palavras de conforto e apoio nos ajuda a fortalecer os laços que nos unem, além de trazer paz aos nossos corações.
Que este templo seja um refúgio para todos, um lugar de acolhimento, paz e esperança, onde possamos superar as dificuldades juntos.
E que, ao prestarmos homenagens aos que já partiram, possamos também fortalecer nossos corações e seguir em frente com esperança.
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junho de 2024
A nobreza do espírito humano
Hoje, nos reunimos para comemorar os imigrantes que se mudaram do Japão para o Brasil. Nossos avôs tomaram a grande decisão de deixar sua terra natal e trazer suas famílias para uma nova terra.
Essa "decisão" molda a essência de nossas vidas.
Na era material de hoje, as atividades religiosas podem parecer, à primeira vista, sem valor, um desperdício e uma despesa cara.
No entanto, a essência da religião não está no material, mas em encontrar valor no "espiritual".
Acreditamos que há um mundo onde aqueles que deixaram este mundo material vivem em paz e conforto, e é por isso que podemos viver confortavelmente neste mundo sem esquecer isso.
Pode-se falar em céu e inferno após a morte. Talvez não haja nada de verdade. No entanto, é correto desejar que aqueles que foram importantes para nós desfrutem de paz e conforto após a morte, e não que "não haja nada".
A nobreza do espírito e da alma humanos não é medida pelo quanto sofremos. O que é crucial é o quanto podemos compartilhar a tristeza dos outros, e essa empatia máxima é chamada de coração de Buda, conhecido como "misercordia".
Decidir aproximar-se do coração de Buda pode parecer fácil, mas requer energia suficiente para mudar toda a direção de sua vida.
No entanto, é por isso que pode ser chamado de um ato nobre digno de todo o nosso esforço.
Quanto tempo ainda temos? Eu espero que despertemos para uma vida cheia de compaixão e dignidade humana o quanto antes.
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Maio de 2024
Encontros e despedidas: reflexões sobre a felicidade
Até o momento, tenho conhecimento de que os nomes de 193 pessoas falecidas foram listados no site do templo em maio. Entretanto, é provável que haja muitos outros nomes de pessoas que faleceram e que eu ainda não esteja ciente e que não foram listados no site.
Além disso, é certo que incontáveis pessoas em todo o mundo faleceram em maio, não apenas relacionadas a este templo.
No entanto, isso também significa que houve tantos nascimentos quanto o número de pessoas que faleceram até agora.
Para uma pessoa nascer, é necessário que seus pais se encontrem, e que os pais deles também tenham pais, e assim por diante, com muitos encontros levando ao nascimento de uma pessoa.
A vida humana é composta de muitos "encontros" e igual número de "despedidas".
A missa de hoje no Templo Hongwanji celebrará o nascimento de Shinran, o fundador da nossa seita, Jodo Shinshu.
Junto com a celebração do nascimento de nosso respeitável mestre, vamos todos refletir sobre a vida humana hoje.
Como você responderia se perguntado "Você é feliz?"
Pode ser difícil dizer que você é infeliz, mas também pode ser difícil afirmar claramente que você é feliz.
Apresentarei algumas palavras interessantes sobre como determinar a felicidade.
- Pessoas que vivem em uma casa com um teto, janelas e luz estão entre os 25% mais ricos do mundo.
- Se você tem dinheiro e tempo para gastar com hobbies, está entre os 13% mais ricos do mundo.
- Estar vivo agora significa viver no "futuro" que muitos milhares de pessoas falecidas sonharam.
- Se você está lendo ou ouvindo este texto agora, é mais afortunado do que 3 bilhões de pessoas que não podem ver, ler, ouvir, escrever ou ter acesso a informações e inteligência.
A vida não é apenas para lamentar a dor e a tristeza. É para olhar para inúmeros agradecimentos e felicidade.
O que você pensa sobre isso que ouvido?
No Budismo, consideramos a felicidade como algo temporário que eventualmente se perderá. Mais do que a própria felicidade, vemos a fixação no estado atual de felicidade e o medo de perdê-lo como uma fonte de sofrimento.
No entanto, olhando por outro lado, isso também significa que qualquer infortúnio atual não durará para sempre.
Por isso, nosso fundador, Shinran, estritamente proibiu buscar a felicidade pessoal através de bens materiais e sucesso social como a única verdade.
A sociedade moderna, graças aos esforços de nossos ancestrais, tornou-se um lugar onde podemos obter várias coisas sem esforço.
Para aqueles que vivem em tal sociedade, o que é verdadeiramente importante é possuir um espírito que possa se regozijar na felicidade dos outros ao seu redor, sem se apegar à própria felicidade ou infelicidade.
Shinran Shonin viu o salvamento de nossas vidas na misericórdia do Buda Amida.
Misericórdia significa sentir a tristeza dos outros como a sua própria e cuidar disso.
Ele também pregou a importância de compartilhar a alegria e valorizar a harmonia geral em direção ao mundo.
O templo existe aqui agora porque esse espírito tem sido transmitido através de gerações de imigrantes japoneses.
E eu também vim para este lugar com minha família para transmitir essa preciosa mentalidade para a próxima geração.
Espero continuar contando com os seus apoio.
Isso conclui minha saudação.
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Abril de 2024
Duas duzes no caminho da vida: Buda Shakyamuni e Buda Amida
Assim como dirigir à noite, a vida nos coloca em um caminho incerto, onde cada passo é uma aventura. Para seguirmos com segurança, duas luzes nos guiam: uma ilumina nossos pés, a outra, o horizonte distante. No carro, os faróis cumprem essa missão, conduzindo-nos ao destino sem tropeços. Na jornada da vida, essa força se multiplica quando caminhamos lado a lado. No Budismo Jodo Shinshu, encontramos duas figuras iluminando nosso caminho: Buda Shakyamuni, que ilumina nossos passos, e Amida Nyorai, que irradia luz no horizonte longínquo.
Ao recitarmos "Namu Amida Butsu", o mundo distante após a vida se torna real, iluminando também o presente que vivemos. Unidos em fé, a chama da devoção se intensifica, guiando-nos com firmeza.
Embora cada um trilhe seu próprio caminho, o destino final é o mesmo: a Terra Pura. Hoje celebramos o nascimento de Buda Shakyamuni, aquele que nos presenteou com a bússola para navegarmos com segurança, passo a passo, em direção à felicidade.
Buda revelou a origem do sofrimento e o caminho para a libertação, ensinando-nos a viver com sabedoria e compaixão. Seguindo seus ensinamentos, o caminho se torna mais claro e a felicidade genuína se revela.
Com profunda compaixão, Amida Nyorai dedicou-se à salvação de todos os seres. Através do Nembutsu, ele nos convida à Terra Pura, um paraíso de paz e felicidade eternas.
Na fé, encontramos uma comunidade que nos acolhe e nos fortalece. Caminhando lado a lado, nos apoiamos e inspiramos mutuamente, tornando a jornada mais leve e luminosa.
Celebrar o nascimento de Buda é um ato de profunda gratidão por sua infinita sabedoria e compaixão. Seguir seus ensinamentos e dedicar-se à felicidade de todos os seres é a forma mais sublime de retribuir sua benevolência.
Assim como os faróis guiam o carro na escuridão, Buda e Amida iluminam nossa jornada. Unidos em fé, com o coração transbordando de gratidão, celebramos este dia especial e renovamos nossas energias para seguirmos em frente, trilhando um caminho de paz e realização.
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Março de 2024
Ohigan: Reflexões sobre a vida e a morte
O Ohigan é um evento importante que ocorre nas mudanças de estação. Embora o verão ainda esteja quente, o Ohigan é um momento para refletirmos sobre nossas vidas e sobre a vida de nossos entes queridos. Com o avanço da ciência e da tecnologia, a medicina e a engenharia progrediram consideravelmente, e as próteses e outros dispositivos podem auxiliar pessoas com deficiências físicas. No entanto, o que nos espera após a morte?
Cientificamente, com a morte, nossos pensamentos e memórias desaparecem, restando apenas nossos ossos.
"彼岸" (Higan) é uma palavra que compara o mundo após a morte à "outra margem".
Talvez não exista nada além disso. No entanto, ninguém pode afirmar com certeza o que acontece após a morte.
Muitas pessoas desejam ser libertadas do sofrimento e descansar em paz após a morte.
Mas quando se trata de um ente querido que partiu, nossos pensamentos mudam. É natural desejar que eles continuem felizes mesmo após a morte.
A ideia de que tudo se torna nada após a morte é muito triste, por isso, antigamente, as pessoas criaram a ideia de um mundo com deuses e budas.
Ao lado de um ser eterno como um deus ou um buda, nossos pensamentos também podem ser eternos, e assim buscamos um lugar onde eles possam permanecer.
A existência de um ser humano é efêmera diante do universo e da história, como um grão de areia levado pelo vento. No entanto, a esperança de estar ao lado de um "ser eterno" nos dá força para viver.
Onde estão nossos entes queridos agora?
No Jodo Shinshu, acreditamos que falecido vai ser Buda.
Ao recitarmos o Nan Man Dabu, expressamos nosso desejo de um dia nos reunirmos com nossos familiares que se tornaram Budas.
O Ohigan é uma oportunidade preciosa para recordarmos nossos entes queridos e refletirmos sobre nossas vidas.
Hoje, todos vocês vieram ao templo para expressar sua gratidão aos seus ancestrais e entes queridos.
Obrigado!
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Fevereiro de 2024
Confiar em alguém: Aceitar enganos e danos
Acreditamos nas pessoas, não é mesmo? Mas, muitas vezes, isso não significa que confiamos na pessoa em si, mas que estamos apenas colocando expectativas excessivas na imagem idealizada que temos dessa pessoa.
Quando nos sentimos traídos, apesar das expectativas, não é porque a pessoa nos traiu, mas porque ela não era quem pensávamos que fosse, ou não tinha as habilidades que imaginávamos.
Apenas vimos um lado dessa pessoa que não era visível antes, e quando isso é revelado, talvez devamos aceitar pensando "Ah, essa também é uma parte dessa pessoa".
Definir impressões sobre os outros arbitrariamente e depois vaguear pela floresta das relações humanas quando as coisas não seguem como esperado é algo que fazemos.
Não é incrivelmente difícil ter um eixo firme e inabalável?
Por isso mesmo, as pessoas falam em "acreditar" e, talvez, por se sentirem inseguras, queiram se agarrar ao sucesso que alcançaram ou à imagem idealizada de alguém.
Mas, quando uma pessoa se apoia em outra, está apenas colocando um fardo unilateralmente nos ombros do outro. É tão fácil apoiar-se em alguém, não é mesmo? No entanto, aquele que está sendo apoiado está se esforçando muitas vezes mais.
Isso não é o que chamamos de confiança, mas sim a imposição de expectativas excessivas. No budismo, chamamos isso de "paixões perturbadoras".
Nosso fundador, Shinran Shonin, disse o seguinte sobre acreditar:
Mesmo que caíssemos no inferno por seguir o Nembutsu encorajado por Honen Shonin, não importaria.
De qualquer forma, por mais que tentemos, não podemos alcançar a Terra Pura com nossos próprios esforços.
Se caíssemos no inferno por acreditar no Nembutsu(Nan Man Dabu), quando poderíamos ter chegado à Terra Pura por nossos próprios méritos, então estaríamos sendo enganados.
É porque, de qualquer forma, não temos outra escolha senão cair no inferno que tentamos recitar o Nembutsu, como o respeitado mestre nos instrui.
Ou seja, confiar em alguém significa estar disposto a aceitar qualquer engano ou dano que venha dessa pessoa.
A relação de confiança entre pais e filhos não é exatamente isso?
E para nós também, como Shinran Shonin nos diz, Buda Amida é realmente aquele em quem devemos confiar.
Obrigado.
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Janeiro de 2024
A essência de uma pessoa "Importante": Preocupação com os outros
No website deste templo, nós publicamos os nomes importantes de suas queridas famílias e suas datas de falecimento. Se você deseja adicionar o nome de uma família que não está listada no site, não é necessário preencher nenhum formulário ou fazer qualquer procedimento. Apenas nos informe o nome da pessoa e a data de falecimento pelo WhatsApp. Nós a adicionaremos imediatamente.
Esses nomes serão continuamente honrados e exibidos como prova de que os falecidos existiram neste mundo, enquanto o templo existir. Além disso, gostaríamos que o maior número possível de pessoas vissem esses nomes, então, por favor, informe também seus familiares e parentes quando eles forem listados.
Agora, gostaríamos de começar com a tradicional história budista durante a cerimônia. Hoje, gostaria de falar sobre o que significa ser uma pessoa "importante".
Em Tóquio, o distrito mais movimentado do Japão, existem muitas opções de sushi, desde as mais caras até as mais acessíveis e deliciosas.Vocês gostam de sushi?
A culinária dos restaurantes de sushi é famosa pelo nigiri-sushi, mas a essência está em usar o peixe mais saboroso da estação para maximizar o seu sabor através da preparação cuidadosa e em oferecer a bebida que melhor o acompanha, o que representa uma parte da culinária japonesa.
Claro, se for barato e gostoso, não é melhor escolher aquele restaurante?
No entanto, há pessoas que vão repetidamentea essas caríssimas casas de sushi. E mais, é tão difícil fazer uma reserva que até entrar no restaur se torna uma tarefa árdua, onde uma refeição pode custar milhares de reais.
Há lugares que chamam pessoas que podem entrar nessas casas de sushi a qualquer momento sem reserva de "pessoas importantes".
O que vocês acham disso ao ouvir?
Isso não é verdade, certo?Certamente, pensar que é importante por comer em um restaurante caro é uma ideia estranha.
A história continua, mas apenas aqueles que podem pagar podem comer nesses restaurantes caros.
No entanto, quase ninguém que paga tanto pensa que é porque é importante.
Pelo contrário, os clientes levam para os chefs presentes caros ou presentes únicos de regiões fora de Tóquio.
Mesmo sendo clientes, eles permanecem humildes e respeitosos com as habilidades dos chefs, mantendo um bom relacionamento e ansiando por um serviço de alta qualidade, o que os leva a se comportarem como cavalheiros naturalmente.
Da mesma forma, o restaurante de sushi também faz um esforço extra para proporcionar o melhor serviço possível, usando suas melhores habilidades para os clientes regulares que não apenas pagam muito, mas também trazem presentes e apoiam o negócio durante os períodos de baixa temporada.
Claro, eles servem os clientes importantes sem se preocupar com o custo dos ingredientes,para garantir que eles possam desfrutar ao máximo.
Pode-se dizer que uma pessoa importante é "alguém que pode se preocupar com os outros com humildade".
Essa é a visão do mundo secular, mas e sobre o ensino que visao de rerisiosa?
Buda Amida nos oferece a mais alta compaixãopara o nosso destino.
Isso é algo que nosso fundador, Mestre Shinran, elogiou como inigualável em sua maravilhosa natureza.
Como então devemos receber esta mão estendida?
Diferente de um restaurante onde você precisa trazer um presente caro para entrar, Mestre Shinran nos mostrou um caminho onde, com apenas Nembutsu, qualquer pessoa pode receber a mais elevada misercordia.
Depois de ouvir a história de hoje, o que vocês acharam?
Existem muitas religiões no mundo, mas na verdade, seus ensinamentos têm muitas coisas em comum escritas.
Muitos deles podem ser resumidos em três pontos principais: "a proibição de matar indiscriminadamente", "a proibição do saque" e "a proibição de mentir".
Embora as divindades adoradas e os textos sagrados sejam diferentes em cada religião, todos eles compartilham o fato de que eles primeiramente ensinam o que é essencial para a sobrevivência da cultura humana e a prosperidade da espécie.
Não é necessário que todos se tornem budistas, mas é importante que todos, como seres humanos, tenham a atitude de se esforçar para se tornarem quem devem ser.
Eu gostaria de pedir a todos que já possuem o hábito nobre de reservar um tempo em memória de seus entes queridos que, pelo menos, respeitem juntos o que é importante como seres humanos. Um templo é um lugar assim.
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Dezembro de 2023
Kagami mochi: Tradição e harmonia familiar no ano novo japonês
O dia 8 de dezembro é um dia especial para o Budismo, chamado "Jodo-e", onde é comemorado o dia em que Siddhartha Gautama, o fundador do Budismo, alcançou a iluminação. É a partir deste momento que se originou o Budismo, há mais de 2500 anos, e essa religião foi aceite e se espalhou por uma vasta área geográfica. Chegou também ao Japão e, ao misturar-se com a cultura japonesa, evoluiu para o Budismo que conhecemos hoje.
Gostaria de introduzir um aspecto da cultura japonesa. Dentro das diversas tradições culturais do Japão, há uma que consiste em empilhar dois moti que bolos de arroz circulares e decorá-los durante o Ano Novo, conhecida como "Kagami Mochi".
Este é colocado como uma oferenda para celebrar o início do Ano Novo e para receber o deus do ano (Toshigami-sama) nas casas. O Kagami Mochi é dito ter começado durante o período Heian, há mais de 1000 anos, mas a prática de oferecer arroz colhido aos deuses é ainda mais antiga.
Toshigami-sama é um dos muitos seres espirituais superiores dentro da cultura japonesa e representa a divindade que chega com o novo ano. O Kagami Mochi reflete o costume de receber o novo ano como se fosse uma divindade.
Esta tradição é um meio importante de transmitir a cultura e os valores herdados dos antepassados para as gerações futuras. "Dado" é uma palavra simples, mas toda a cultura japonesa está embutida nesta prática que foi passada de pais para filhos ao longo dos séculos.
Dois Moti empilhados um sobre o outro simbolizam "céu e terra" ou "pais e filhos", algo comum em muitas culturas ao redor do mundo.
Assim, o Kagami Mochi transcende ser apenas um alimento; ele representa a coesão e a harmonia familiar de uma maneira tangível.
No Kagami Mochi, coloca-se uma tangerina no topo. No Japão antigo, a tangerina era chamada de "daidai".
Isso se tornou um costume porque "daidai" soa como a expressão "de geração em geração" em japonês, e assim, a tangerina é colocada como símbolo dos antepassados no céu e na terra.
E quando a família se reúne para o Ano Novo, o Kagami Mochi serve como uma decoração central, em torno da qual sorrisos e conversas são compartilhados — um elemento essencial para as casas japonesas.
Por volta do dia 11 de janeiro, há o costume de comer o Kagami Mochi com a família, um evento conhecido como "Kagami Biraki".
Este ato marca o fim do período especial de Ano Novo, considerando a data de validade dos bolos de arroz feitos no final do ano passado, servindo como um divisor de águas para as pessoas retornarem à sua rotina diária.
Durante o Kagami Biraki, é costume não usar facas, mas sim quebrar o mochi com um martelo de madeira, afim de evitar "cortar" os laços familiares.
Hoje eu quis compartilhar sobre a importância de valorizar a cultura japonesa. Em nosso templo, também faremos mochi no dia 30 de dezembro e venderemos Kagami Mochi.
Se puderem, convidamos a todos para decorarem suas casas com Kagami Mochi e receberem o Ano Novo com a família.
Espero ter capturado a essência do seu texto e traduzido de uma forma que o torne compreensível para falantes de português do Brasil. Se precisar de ajuda com mais alguma coisa, estou à disposição.
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Novembro de 2023
Hōonkō: Retribuindo a graça do Mestre Shinran
O Hōonkō é hoji do fundador Jodo Shinshu Mestre Shinran.“Hōon” significa "retribuir a graça". Hoje, gostaria de falar sobre o que é essa graça. A graça que o Mestre Shinran nos deixou é “a doutrina da Jodo Shinshu”. Embora seja essencialmente a doutrina do budismo, existem várias seitas budistas.
Como todos sabem, os conflitos no Oriente Médio que duraram por muito tempo se intensificaram no mês passado.
Seus deuses nunca promoveram a guerra. No entanto, também não a proíbem, e às vezes é dito que é necessário lutar para proteger sua fé, o que parece ser um dos fatores.
Nas religiões monoteístas que pregam a ordem divina como "boa", as ações que não estão de acordo com essa ordem são rotuladas como "más", e, às vezes, medidas armadas são tomadas para corrigir ou eliminar o mal.
Por outro lado, o budismo nunca se envolveu em guerras religiosas ao longo de sua história.
Em parte, isso se deve à sua natureza como uma religião politeísta que incorporou ativamente outras religiões.
Além disso, a doutrina budista é essencialmente "vazia" e busca se distanciar das noções convencionais de ordem e senso comum.
E qual é a doutrina do budismo?
O objetivo final é a "Iluminação", e a palavra "Buda" significa "aquele que se iluminou".
O conteúdo da Iluminação é bastante simples:
"todas as coisas são impermanentes,todas as coisas são vazias,
todas as coisas são sofrimento."
Compreender esses três princípios é a Iluminação.
No entanto, "compreender" significa que você se torna um com esses princípios.
Aqui, não existe um padrão absoluto de bem e mal, e todas as noções de bem e mal se tornam "para alguém".
Isso é chamado de "vazio" na essência.
O objetivo é a libertação das várias formas de sofrimento causadas por se prender a julgamentos pessoais de bem e mal e alcançar a paz interior.
Falamos brevemente sobre o budismo, mas o que é a doutrina da Jodo Shinshu?
A Jodo Shinshu divide o budismo em duas categorias principais.
Uma é o grupo que busca alcançar o mundo da Iluminação por seus próprios esforços.
Este grupo inclui muitas seitas que praticam estudos aprofundados, rigorosa disciplina e renúncia a todos os desejos mundanos para alcançar a Iluminação à semelhança do Buda histórico, Siddhartha Gautama.
Outro grupo tambem inclui o Jodo Shinshu, que é guiado para o mundo da iluminação por meio de um método já estabelecido por Buda. Essencialmente, foi ensinado como um meio de salvação para aqueles que não podem se tornar monges.
O resumo desses ensinamentos está contido no "Kyogyoshinsho".
Shoshingue que lemos hoje faz parte desse livro. Embora tenham sido escritos de maneira que todos possam entendê-los, eles ainda são complexos e exigem um estudo sério.
No entanto, graças à obra do Mestre Shinran, a salvação budista se tornou acessível a todos, não apenas a alguns. Este é o significado do Hōonkō, que se esforça ao máximo para retribuir os méritos do Mestre Shinran.
E como fazemos isso? Através do Nenbutsu.
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Outubro de 2023
Qualidade de vida e a busca por um destino: Encontrando o Buda Amida
Vamos lá, entrar no assunto. As mudanças de estação especialmente problemas de saúde. Dores de cabeça, dores de cabeça e dores no corpo, existem muitos medicamentos disponíveis que podem aliviar os sintomas de acordo com a dor. Portanto, é importante ter medicamentos adequados em casa para os sintomas que normalmente reconhece.
No entanto, os médicos geralmente recomendam a realização de exames para eliminar a causa.
No budismo tambem, a abordagem básica é que, em vez de se enganar momentaneamente em relação à ansiedade e preocupações da vida, é necessário lidar com as causas fundamentais.
As preocupações das pessoas podem ser divididas em duas categorias principais: saúde e economia, e qualidade de vida.
No que diz respeito à saúde e economia, embora isso não se aplique a todos, é uma área em que o esforço pode fazer a diferença.
Mas, e quanto à qualidade de vida?
O que é qualidade de vida, afinal?
É o resultado de encontros com pessoas maravilhosas?
É o resultado das realizações acumuladas?
Existem muitas perspectivas.
Agora, já se perguntou se um ano na infância e um ano na idade adulta têm a mesma duração?
Embora devam ter a mesma duração, muitas pessoas acham que um ano na idade adulta parece mais curto, não é?
Geralmente se diz que um ano na idade adulta é uma fração menor da vida até agora e, por isso, parece mais curto.
No entanto, isso não é necessariamente verdade.
A resposta está na presença ou ausência de mudança.
Fazer as mesmas coisas com as mesmas pessoas no mesmo lugar não cria memórias diferentes.
Por exemplo, se dirigiu por 10 horas para algum lugar, quantas pessoas se lembram de todos os detalhes 10 horas depois?
No entanto, se fez uma viagem turística de 10 horas em um dia e viu muitas coisas diferentes, a maioria das pessoas se lembra de muitos detalhes.
Onde foram, o que viram e comeram.
Um dia, todos nós olharemos para trás em nossas vidas em seu momento final.
Haverá duas coisas importantes nesse momento.
A primeira delas é a capacidade de olhar para trás e dizer que tivemos uma boa vida.
A segunda é ter um destino determinado.
Neste caso, o destino é o mundo do Buda Amida.
Todos vieram aqui hoje para se encontrar com o Buda Amida do Otera.
Embora sua família tenha tradições de realizar missa budista e orações para os antepassados neste templo do Jodo Shinshu, conhecem o verdadeiro significado disso?
Significa que, após o término de sua vida atual, renascerá no mundo do Buda Amida.
A doutrina da Escola Jodo Shinshu é, precisamente, desejar renascer no mundo do Buda Amida.
Portanto, todas as pessoas aqui hoje se encontrarão novamente no mundo do Buda Amida em algum momento.
O ensinamento deste templo do Jodo Shinshu é fazer a promessa de "nos encontrarmos novamente um dia".
A conversa de hoje começou com a questão da qualidade de vida.
Na vida, é aquela em que, ao olhar para trás no final da vida, passou por momentos gratificantes com muitas boas lembranças e, ao mesmo tempo, encontrou a resposta para a pergunta "para onde estou indo?" que é a mais "qualidade" de vida, não é mesmo?
Expressamos o desejo de "nos encontrarmos novamente no mundo de Buda Amida" com a palavra "Nan man dabu".
Muito obrigado. Nan man dabu
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Agosto de 2023
Obon: Lembrança, gratidão e a cura de Buda
Hoje vou falar sobre o omairi do Obon. Mas, vou ler o discurso que preparei. E vou ler devagar.Não é para tornar mais fácil de entender ou ouvir. É porque, para mim, apenas ler ainda é um desafio. Embora eu tenha vivido no Brasil por cerca de 10 anos, a maioria de vocês fala muito bem japonês comigo, então acho que essa é a razão pela qual meu português não está melhorando muito ainda.
Mesmo assim, o conteúdo do discurso é algo que considero importante como monge, e escrevi isso com cuidado.
Pode ser um conteúdo difícil de entender, mas por favor, ouçam com boa vontade e interpretem da melhor maneira possível.
Boa tarde a todos, hoje realizamos uma cerimônia de comemoração do Finados Japão,Obon, chamada " Cerimônia de Lembrança " .
Embora essa cerimônia seja realizada em todo o mundo, hoje eu gostaria de falar sobre seu significado no budismo.
Primeiro, vamos voltar à origem do Obon, que muitos de vocês provavelmente já conhecem.
Havia um discípulo de Buda chamado Mokuren, que tinha o poder de ver além do tempo e do espaço, mas não conseguia ver a verdade, e por isso se tornou um seguidor budista.
Certa vez, ele procurava por sua mãe falecida e viu a imagem dela sofrendo na mundo dos espíritos famintos, um mundo de fome e desejo eterno, onde não era possível encontrar satisfação.
Profundamente aflito, Mokuren perguntou a Buda a razão e a maneira de salvar sua mãe.
Buda lhe disse que sua mãe estava no mundo dos espíritos famintos porque, em vida, ela havia acumulado alimentos de maneira obstinada, preocupada com Mokuren, seu filho.
Na época em que havia poucos recursos disponíveis, alguém acumular comida excessiva significava monopolizar o alimento que deveria ser compartilhado igualmente entre todos.
Isso perturbava o equilíbrio que deveria existir.
Como forma de salvar a mãe de Mokuren, Buda sugeriu que ele doasse alimentos aos outros, libertando-se do apegos materiais e compartilhando com os demais.
Diz-se que, graças a esse ato meritório, a mãe de Mokuren alcançou o Nirvana.
Originalmente, essa história tinha como objetivo alertar sobre a ganância e o desejo excessivo, mas, com o sentimento de lembrança de seu filho pela mãe falecida, gradualmente tornou-se uma tradição para homenagear os mortos.
Em japonês, a palavra "lembrança" significa lembrar a pessoa que faleceu, enquanto se reflete sobre a aparência dela em vida e se lamenta sua morte.
O conteúdo principal envolve um sentimento de compaixão por aqueles que faleceram.
No entanto, é um tanto abrupto classificar aqueles que não têm mais vida como dignos de pena.
Certamente, a vida é algo muito valioso para nós, os vivos.
No entanto, isso não significa que seremos felizes apenas por estarmos vivos.
Durante um congresso dos jovens budistas no mês passado, houve muitas discussões sobre "o que podemos aprender do budismo para vivermos melhor?".
Essa é uma pergunta comum entre os jovens com futuro pela frente.
Apesar de estarmos vivos, muitos de nós carregamos preocupações e sofrimentos.
Às vezes, a vida pode ser tão difícil que alguns até consideram terminar com ela, e infelizmente o suicídio é uma das principais causas de morte.
É difícil separar o sentimento de pena do ato de lembrar.
No entanto, é importante enfrentar sinceramente o verdadeiro motivo desse sentimento de pena.
O alvo desse sentimento não é a vida perdida, mas a "solidão que eu, eu mesmo, sinto" por ter perdido alguém querido.
Em outras palavras, a pessoa digna de pena sou eu que "está sentindo tristeza".
A magnitude da tristeza é diretamente proporcional à quantidade de felicidade que recebemos, e esse sentimento de lembrança se transforma em um sentimento de gratidão.
Por isso, a lembrança também é, essencialmente, um sentimento de gratidão.
Dizemos que lembrar os falecidos é sermos curados por Buda. A Cerimonia de embrança é um dia para receber a cura de Buda.
Viver com um profundo sentimento de gratidão por todos os encontros e pela própria existência é caminhar ao lado de Buda, e isso nos guiará a uma vida melhor.
Qual é a coisa mais infeliz para os seres humanos?
Pode ser a morte. No entanto, se sabemos que é algo que certamente acontecerá, não seria bom evitá-la?
Infelizmente, não podemos. A vida sempre chega ao fim.
Se a morte é inevitável para a vida que nasce, então a morte não é necessariamente infelicidade, mas sim algo planejado. Então, por que temos sempre uma imagem negativa associada à morte? Acredito que isso se deve, em grande parte, à maneira como a morte ocorre, especialmente o sofrimento e a dor. Portanto, será que tememos a dor do momento final?
No entanto, sabemos que a dor pode ser superada.
Se a questão da forma como morremos é analisada mais profundamente, ela se resume à compreensão que os outros têm dela.
Imagine isso. Uma vida que, após a morte, é vista como digna de compaixão versus uma vida que é admirada. Não se trata apenas de riqueza e fama conquistadas, mas de como estamos satisfeitos com a vida que levamos.
Mas o que exatamente é uma vida satisfatória?
Essa é uma pergunta que parece não ter uma única resposta, pois varia de pessoa para pessoa. No entanto, há muito tempo, o Budismo da Terra Pura Jodo shinshu estabeleceu um único propósito para a vida. É o ato de decidir por si mesmo para onde ir após a morte, fazendo parte do vasto mundo do Amida Buda. O ensinamento do fundador Shinran é que iluminar a incerteza futura e seguir a vida com determinação é a coisa mais importante.
Dizem que você não deve hesitar após a morte, mas a verdade é que você já está perdido se não estiver olhando diretamente para frente enquanto está vivo.
Hoje, gostaria de falar sobre a mentalidade e preparação para o momento em que nos despedimos de entes queridos que partiram desta vida, olhando para isso sob uma perspectiva diferente. Espero que isso possa ser útil para futuros funerais e cerimônias religiosas.
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Julho de 2023
Nascer Humano: O desejo egoísta e a busca por vergonha
Hoje estamos aqui para uma cerimônia comemorativa, celebrando o novo começo do templo neste local. Portanto, gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre nascermos como seres humanos. Nossas vidas nascem neste mundo sem que saibamos. Acredito que ninguém nasce desejando ser humano. O corpo vem primeiro, e características como personalidade e conhecimento são adquiridas posteriormente. Mais especificamente, dizem que cerca de 30% das habilidades e traços de personalidade de uma pessoa são determinados pela genética, enquanto os restantes 70% são moldados pelo ambiente e interações.
Isso inclui a educação e o ambiente em que vivemos.
Isso pode ser facilmente compreendido através da história de uma criança criada por animais. No passado, uma criança que havia sido criada por lobos foi encontrada na Índia. Desde o seu nascimento, o menino foi levado por uma loba fêmea e criado por lobos até crescer. Quando ele foi reintroduzido na sociedade humana, não conseguiu abandonar o andar de quatro patas nem falar como um humano; ele ainda se comunicava através dos uivos dos lobos. Ou seja, geneticamente ele era humano, mas algo como "comportamento de lobo" foi incorporado nos 70% restantes. Por outro lado, nunca ouvi falar de um cachorro criado desde o nascimento por humanos que caminhasse em duas pernas e usasse palavras.
Isso significa que, dependendo de como somos criados, podemos nos tornar tanto humanos quanto animais.
Para se tornar humano, é necessário nascer como pessoa e estabelecer uma relação com os outros.
Então, o que significa viver como um ser humano?
Há uma expressão que diz:
"Um cachorro raramente faz algo que não seja como um cachorro,
enquanto os humanos frequentemente fazem coisas que não são como humanos.
Quando uma formiga encontra algo doce, ela sempre o leva de volta ao formigueiro,
enquanto os humanos secretamente tentam comer sozinhos."
Essa frase é inspiradora e nos faz pensar. O que significa ser humano? Por exemplo, quando lambemos o prato durante a refeição, somos repreendidos por parecermos cachorros. Então, será que usar hashi (palitos) ou faca e garfo para comer é o que torna uma pessoa mais humana? No entanto, existem muitos países onde as pessoas comem apenas com as mãos.
"O ato de secretamente comer algo doce sozinho" talvez seja a atitude mais humana. É viver de acordo com seus desejos egoístas, colocando-se em primeiro lugar. No entanto, não chamamos isso de "humano". Chamamos essas pessoas de "astúcia". Talvez o que sentimos quando dizemos que alguém vive como um ser humano seja saber o que é "vergonha".
Se falarmos sobre a essência humana, penso que é algo que tem o desejo egoísta de satisfazer seus próprios desejos, querendo apenas o melhor para si mesmo. No entanto, também sabemos que viver apenas de acordo com os desejos é vergonhoso. Portanto, reprimimos nossos desejos e vivemos considerando os outros. É assim que sentimos que alguém está vivendo como um ser humano. No budismo, essa vergonha é chamada de "sentimento de vergonha".
Shinran Shonin dividiu essa "sentimento de vergonha" em três partes:
- Não cometer erros por conta própria e não fazer com que os outros cometam erros.
- Ter uma sentimento de vergonha em relação a si mesmo e demonstrar isso aos outros.
- Ter uma sentimento de vergonha em relação ao mundo e aos budas.
Aqueles que possuem essa sentimento de vergonha são chamados de "seres humanos", enquanto aqueles que não a possuem são chamados de "animais". Em outras palavras, só podemos nos tornar humanos até certo ponto com nossos próprios esforços.
Existe um ditado que diz: "Sendo nascido por humanos, tornamo-nos humanos; sendo desejado por Buda, tornamo-nos Buda".
Nossas vidas são desejadas por Buda Amida para que possamos nos tornar budas. E Buda Amida, com todos os seus desejos, trabalhos e méritos, nos transmitiu tudo isso através da recitação do Nembutsu ("Namu Amida Butsu"). Ouvir o Dharma significa que estamos sendo criados por Buda Amida. Juntar as mãos significa que temos um lugar para refletir sobre nós mesmos.
É difícil para as pessoas se autoreflexionarem diante dos outros. Acho que uma briga entre marido e mulher é um bom exemplo disso. Mesmo sabendo que está errado, é difícil pedir desculpas sinceramente. No entanto, de alguma forma, quando nos sentamos diante de Buda, podemos refletir sobre nós mesmos de maneira sincera.
Podemos ver nossa própria imagem claramente. Podemos ver claramente que estamos colocando a culpa no outro.
Ter tempo para juntar as mãos diante de Buda em nossa vida significa ter tempo para se autoreflexionar.
Autoreflexão não significa apenas arrependimento. Significa refletir sobre tudo, tanto coisas boas quanto ruins, coisas alegres e tristes.
Embora estejamos ocupados com trabalho, estudo e diversão, vamos encontrar tempo para juntar as mãos diante de Buda em nossa vida cotidiana.
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Junho de 2023
Homenagem aos imigrantes e a lição das carpas: A fragilidade do humanismo
Primeiramente, gostaria de fazer uma homenagem em Ofício Memorial dos Pioneiros Imigrantes na Comemoração dos 115 anos da Imigração Japonesa no Brasil. Hoje, nesta cerimônia em memória dos imigrantes: "Encontro para recordar os japoneses que migraram para o Brasil", gostaria de prestar minhas sinceras homenagens às pessoas que corajosamente deixaram sua terra natal e se esforçaram para construir uma nova vida neste país, enfrentando um mundo desconhecido. Ao aprender com suas realizações e transmiti-las às gerações futuras, prestamos nossa homenagem aos nossos antepassados. Ao cultivarmos as sementes que eles deixaram em nossos corações, como humildade, paciência, diligência e cooperação, podemos construir um futuro brilhante para as próximas gerações. Expressamos nossa profunda gratidão.
Agora, gostaria de compartilhar uma história sobre os ensinamentos da escola Jodo Shinshu.
Hoje, vou apresentar a história do Rev. Tokunaga, ex-reitor da Escola de Estudos Preliminares da Jodo Shinshu Honganji. A escola de estudos preliminares é uma instituição que avalia se os escritos do líder religioso estão corretos em termos de doutrina e reúne os estudiosos mais respeitados dentro da seita.
Algumas pessoas podem pensar que as palestras do professor de estudos preliminares são muito difíceis, mas as palestras do Rev. Tokunaga são sempre muito gentis, claras e maravilhosas. Então, vamos apresentá-las imediatamente. Esta história aconteceu na casa do Rev. Tokunaga.
No jardim da meu Templo em Quioto, há um lago onde vivem cerca de vinte carpas coloridas. Todos os anos, no início do verão, as carpas colocam muitos ovos, mas a maioria dos ovos ou alevinos acaba sendo comido por outras carpas, e apenas algumas delas aparecem escondidas entre as plantas aquáticas ou pedras no outono. É realmente triste pensar que a maioria dos ovos e alevinos que nasceram em centenas ou milhares são devorados.
Portanto, este ano, peguei os ovos junto com as folhas de palmeira onde foram depositados e os coloquei em outro tanque. Com medo das mudanças no ambiente, fiz isso com muita apreensão. No entanto, alguns dias depois, em uma noite, quando olhei para o tanque com uma lanterna, fiquei surpreso. Em vez de terem sido completamente destruídos, centenas ou talvez até milhares de alevinos tinham eclodido. Fiquei maravilhado com o mistério da vida que a natureza cria.
Após um tempo, os alevinos cresceram e ficaram grandes demais para o tanque. Ainda não podíamos soltá-los de volta ao lago original, pois eles seriam devorados pelos peixes adultos em pouco tempo. Portanto, os colocamos em um grande tanque de plástico. Isso aconteceu há apenas dois ou três dias. Os alevinos mostram diferentes tamanhos e estágios de crescimento, mas até agora todos estão nadandosaudavelmente.
O que eu quero dizer aqui não é que salvei a vida de centenas de alevinos que, se os deixássemos, seriam comidos por outros peixes. Na verdade, meu pensamento agora é o oposto, questionando se não fiz algo desnecessário. Ou seja, se eu esperasse até que esses alevinos crescessem o suficiente para não serem comidos pelos peixes adultos e os devolvesse ao lago original, isso provavelmente destruiria o ecossistema do lago em pouco tempo, afetando centenas de novos peixes. Se centenas de peixes adicionais fossem introduzidos além dos cerca de vinte peixes atuais, provavelmente todos seriam eliminados, incluindo os peixes originais.
Minha intenção de salvar as vidas dos centenas de alevinos que certamente desapareceriam se os deixasse, agora se tornou um problema que pode levar ao colapso. Talvez meu ato, que eu acreditava ser bem-intencionado, fosse apenas um humanismo frágil quando visto sob as leis naturais.
Em suma, o amor que eu sentia pelos alevinos era apenas unilateral, e eu não percebi que havia consequências negativas. No lago do meu jardim, as leis naturais também estão em ação, e minha ação, embora tenha surgido de boas intenções, ignorou essas leis naturais.
Através dessa experiência, pude compreender a verdadeira intenção do Santo Parente Heron mostrando que nossos cálculos superficiais, que adicionam nossos próprios pensamentos à maravilhosa ação do poder da Fé Única, são inválidos.
Acredito que o Santo Parente nos ensinou que, mesmo que eu pense que não posso ser salvo ou que tudo ficará bem porque ouvi e recitei o Nembutsu, nossos cálculos egoístas estão sempre acompanhados de consequências negativas. Além de qualquer benefício ou prejuízo que eu possa imaginar, a grande compaixão da Fé Única brilha sobre mim, sem sombras, ou seja, sem cálculos, alcançando-me.
Falou a partir da sua própria experiência, mostrando que, por muito boas que pensemos ser as nossas acções, elas não são necessariamente "boas para todos".
A essência do budismo é olhar objetivamente para as coisas, de todas as perspectivas, e compreender sua verdadeira natureza. Por isso, o Buda shakamuni quem nosso fundador budico deixou muitos ensinamentos nos sutras.
Dentro da seita à qual nosso templo pertence, chamada Jodo Shinshu, valorizamos a compreensão da essência das coisas através da vida do nosso fundador Shinran.
Existe o conceito de "lei de causa e efeito", que nos faz observar calmamente que sempre há uma causa por trás dos resultados.
Em outras palavras, não confiamos em orações ou adivinhações sem fundamentos.
Além disso, não atribuímos nossas conveniências ou inconveniências à responsabilidade de deuses ou espíritos.
Viver em harmonia com a realidade do mundo conforme ela é, baseado nesses princípios, é o espírito do Jodo Shinshu, e é o "orgulho dos discípulos" que seus antepassados transmitiram ao longo das gerações até chegarem a esta terra sul-americana.
Espero que, ao compartilharmos essa história juntos, possa ser uma oportunidade para nós, que vivemos na sociedade contemporânea, refletirmos sobre várias coisas.
A propósito, o que aconteceu com os carpas mencionados nessa história?
Quando tive a oportunidade de conhecer o professor Tokunaga pessoalmente, ele me perguntou: "Você tem alguma pergunta?" Embora não estivesse relacionado ao conteúdo da palestra, fiz uma pergunta.
Foram libertados num grande rio da cidade se chama rio kamo durante a noite. Não sei se isto é bom ou mau.
Se for uma coisa má, então afectará a ecologia de Quioto pelos sumos sacerdotes da seita Jodo Shinshu e será uma questão de bom nome para a seita, por isso, por favor, mantenha-a em segredo.
assim encerro minha palavra.
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